{Crítica} Amaldiçoada



Desde sempre há a religião (citando todas como um todo), e existe gente que usa a sua fé e a dos outros para justificar atos terriveis. São pessoas que se aproveitam de algo que deveria unir e promover a paz, e a usam para satisfazer seus próprios interesses egoístas e, não raramente, doentios. Hoje é muito discutido o perigo do fanatismo religioso, mas e no século 19, numa vila onde a principal autoridade vem da igreja, melhor dizendo, de quem deveria dar voz á igreja? Embora pareça um terror,e seja vendido como tal, esse filme faz uma das críticas mais fortes, brutais e desconfortáveis ao fanatismo e á hipocrisia da história do cinema.Tive que assistir duas vezes, pois na primeira eu não aguentei e troquei de canal antes do fim. Mas essa crueza é necessária.

A parteira muda Liz tem a sua pacata vida revirada depois da chegada do novo reverendo no vilarejo. De início, já fica claro o assédio deste contra a moça e a vista grossa da família dela e dos moradores o que já é bem incomodo. Porém ocorre uma tragédia, a morte de um bebê durante o parto que ela fazia, que logo resulta em mais outra e obriga Liz á fugir com filha e enteado, tentando deixar o passado, definitivamente, para trás.

Não tem como falar da trama sem antes destacar a narrativa nada convencional. É uma espécie de "anti-narrativa laço". O que eu disse aí em cima é apenas o primeiro dos quatro capítulos (sim, o filme é dividido em partes!). Como a ultima coisa que quero é dar spoiler, só falo que o segundo capítulo remete á juventude de Liz, e o terceiro á infância. Em mais de duas horas, vemos muitas fugas, muita gente boa ou má entrando e saindo da vida de Liz, essa mulher aparentemente frágil mas que se revela dona de uma força maior que a de seu oponente. O fato dela ser muda pode ser visto como uma metáfora para essa tendencia de silenciar o sofrimento das mulheres, embora Liz não tenha nascido assim (o que é mostrado mais para frente). O que gostei foi a forma como as mulheres se protegem, mesmo num ambiente tão bruto e violento. Estou tão acostumada á ver personagens femininas puxando o tapete umas das outras que é uma ótima surpresa quando essa parceria é mostrada naturalmente.

A fotografia, desde a primeira cena, é fantástica. Usa muitos tons frios e secos, lembrando um pouco A Bruxa e A Colina Escarlate, ainda que não seja um terror como o primeiro e tenha muito mais nexo que o segundo. Por ser extenso, pode cansar um pouco, principalmente na terceira parte (embora seja nesta que ocorre a revelação mais chocante), nada que o comprometa demais. Sobre os personagens: são oito ou oitenta, ou verdadeiros anjos ou o mal encarnado, não há meio termo. O roteiro poderia ter trabalhado melhor nessa parte e te-los deixado mais ambíguos.

E tem as já citadas cenas impactantes. Embora tenham sido muito criticadas, o que eu entendo, é preciso concordar que sem ela a trama perderia boa parte de sua força. Estão nelas as maiores atuações presentes no longa, inclusive o desafio de passar toneladas de tensão e desespero sem soltar uma unica palavra, que Dakota Fanning não só topou como se saiu excelente. Guy Pearce interpreta o monstruoso reverendo com uma competência que não o deixa cair no esteriótipo quando a estória avança e descobrimos os "motivos" dele, ainda que compreende-los seja tarefa impossível.

Enfim, esse não é um filme que recomendo para todos. Mesmo um publico acostumado com Tarantino, Chan-Wook e outros realizadores que pegam pesado em suas obras se chocaria com certas sequencias desse Amaldiçoada. Mas, se tiverem oportunidade e estômago, assistam. Vale á pena.



Título: Amaldiçoada (Brimstone)
Elenco: Dakota Fanning, Guy Pearce, Emilia Jones, Carice Van Houten, Kit Harington
Direção: Martin Koolhoven
Gênero: Drama
Duração: 2h 28 min
Classificação: 18 anos
Avaliação: 

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