{Resenha} Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida



Título: Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida (Filhos do Éden #1)
Autor: Eduardo Spohr
Editora: Verus
ISBN: 9788576861416
Número de Páginas: 473
Ano: 2011
Classificação: 

Há uma Guerra no céu. O confronto civil entre o arcanjo Miguel e as tropas revolucionárias de seu irmão, Gabriel, devasta as sete camadas do paraíso. Com as legiões divididas, as fortalezas sitiadas, os generais estabeleceram um armistício na terra, uma trégua frágil e delicada, que pode desmoronar a qualquer instante. Enquanto os querubins se enfrentam num embate de sangue e espadas, dois anjos são enviados ao mundo físico com a tarefa de resgatar Kaira, uma capitã dos exércitos rebeldes, desaparecida enquanto investigava uma suposta violação do tratado. A missão revelará as tramas de uma conspiração milenar...

Eu gosto muito do Spohr. Ele sempre se mostra muito dedicado e atencioso aos fãs. Está acessível em todas as mídias sociais, conversando sobre suas obras, tirando dúvidas e ajudando seus fãs a realizarem o sonho de terem uma obra publicada também. Seu primeiro livro, A Batalha do Apocalipse (ABdA), foi um sucesso de vendas. Confesso que não identifiquei os erros que tanto mencionaram nos sites, fóruns e demais meios pela internet – eu só li a história, e me apaixonei por ela e por seu autor – de novo, por ser tão “fofo” com seus fãs. A trama de Ablon através dos tempos, a guerra entre os anjos, o amor de Deus pelos humanos sendo questionado por anjos e demônios foi muito fascinante. Por isso que, mesmo ABdA sendo uma pequena “bíblia” (como eu chamo os livros de muitas páginas!), quando o autor diz que vai explorar novamente este universo, nós, fãs, vamos feito vampiros famintos saciar a nossa sede com a nova história. 

Dito isto, vocês vão entender porque fiquei decepcionada com esta nova aventura da trama angélica. Mas muito, muito mesmo, elevada a décima potência.

A trama é a seguinte: Kaira, um anjo que perdera a memória, vivia entre mortais, acreditando ser um deles, quando é recuperada por seus pares para ser levada até Gabriel, seu líder. O grupo precisa retomar uma investigação do ponto onde Kaira parou, porém ela, além de desmemoriada, é baleada e seus amigos a levam para que o anjo exilado, Denyel possa ajudá-la, já que a mesma não consegue abandonar a “casca” humana e ter com os celestes no plano astral.  A partir daí a trama se desenrola em fugas desenfreadas e lutas muito bem elaboradas pois, aqueles que mantinham Kaira sem memória eram nada mais nada menos que a horda de Miguel atrás de um segredo que Kaira descobrira e que agora ela não sabe qual é. E há a Rachel, uma garotinha humana com uma perigosa ligação com Kaira. Um enredo permeado de aventura a cada virada de página.

Eduardo Spohr é muito bom nos planos de ação. A descrição dele nos permite visualizar toda cena, quase como se estivéssemos no local vivenciando-as. Esse é um ponto bom nesta história: aqui sua escrita se aproxima da de Dan Brown quando este descreve os ambientes por onde o Prof. Langdon passa. Spohr tem o cuidado de detalhar pormenores dos lugares onde os personagens transitam, tornando-os familiares ao acrescentar uma informação histórica, técnica ou turística aqui e ali. Ao longo da trama ele também detalha com precisão os movimentos dos personagens em combate, o que estende um pouco essas passagens – são muitas lutas! A cada capítulo temos uma virada certeira, seja com lutas ou com revelações.

A história em si não precisava de continuação não fossem as tramas paralelas. O leitor é informado logo na introdução que se trata de uma história em tomos, e que em cada um deles será encerrada uma missão. Assim, diferentemente de ABdA onde as idas e vindas no tempo serviam para acrescentar informações às lembranças de Ablon, neste livro, tais informações ficam soltas e um tanto gratuitas inicialmente; somente numa segunda leitura que conseguimos inseri-las no contexto. Uma delas é o passado de Denyel, passagens interessantes mas que fazem mais volume - se este primeiro livro fosse roteirizado, essas partes com certeza estariam fora ou não durariam mais que alguns segundos. A outra trama, bem mais interessante, trata-se de uma história que remonta à época em que Lúcifer se sentava ao lado de seus irmãos no Céu. Aparentemente sem ligação alguma com a história, esta última trama serve de chave para que a aventura continue no livro seguinte; quando a lemos isoladamente, queremos saber a todo custo o que acontecerá com os personagens daquele núcleo.

Então, se até aqui tudo parece razoável, qual é o problema?

Os personagens.

Muitos autores tem a faceta de criar vilões que agradam mais aos leitores do que os mocinhos. E de fato, nesta história os vilões pareceram mais interessantes. Não deveria ser uma surpresa: se eu tivesse prestado a atenção, teria visto que logo na introdução somos informados que nesta história os heróis serão mais vulgares e menos infalíveis – eu só não esperava tanto. Kaira, a anjo mocinha, é chatinha desde o início (como aquelas personagens de filme de terror adolescente). Apesar de forçar uma complexidade, sua personalidade é rasa, parece uma menina mimada que tem tudo nas mãos mas nunca sabe de nada. E quando descobre sua posição como líder usa isso de forma pirracenta, no estilo "dona do play":“eu sou sua líder, tem que me obedecer”, sendo essa a deixa perfeita para Denyel contrariá-la e/ou desautorizá-la. Ela não piora à medida que a história (esta) avança, mas também não melhora. A relação dela com o Denyel é aquela questão um tanto ultrapassada de mocinha-certinha-se-apaixonando-pelo-bonitinho-cafajeste: o autor fez do Denyel uma espécie de “Dean Winchester”* que não me agrada – mas deve agradar a alguém pois tal personagem se replica nos filmes de ação desde que eu me conheço por gente. Entre os dois, o Denyel é o que tem uma história mais razoável, mesmo assim essa onda “mamãe passou açúcar em mim” somada a “eu sou o tal” cansa em alguns momentos. Entre os vilões, Andril tem uma “pegada” interessante: do lado de Miguel, é um anjo com poder de gelo e acaba sendo um oposto de Kaira. Ele não entra nos clichês dos vilões e vai e vem pela história causando surpresas. E tem também a trama que envolve a Rachel, que foi descrita com uma delicadeza ímpar – o encontro entre ela e Kaira foram os únicos momentos que simpatizei com a personagem angelical.  

Enfim ... Quando você não curte os personagens principais a história fica difícil de ser engolida e levada adiante - o que só foi feito dois livros e meio depois e uma “obrigação” de ler um capítulo por dia para não atravessar o ano com ele. Mesmo desconstruindo toda a trama de ABdA, fingindo que ela nunca existiu, não é a história que é o problema mas o cerne dos personagens principais. Até seus diálogos soam forçados em alguns momentos. Eu tentei me identificar com eles mas não consegui.  Assim, foram os conflitos dos arcanjos que mais me fascinaram – por mim a história poderia ser só eles!  - e será só por causa deles que lerei os outros.

(Mentira, é porque passei umas duas horas na fila da livraria para pegar o autógrafo do autor e não vou abrir mão desses livros de jeito nenhum: então eles precisam ser bons! Rs)

*Nota: Dean Winchester é personagem da série Supernatural (Sobrenatural) cujo modo de vida é caçar seres sobrenaturais junto com o irmão Sam. Por ter perdido os pais para entidades do mal, é meio cafajeste e suas relações amorosas não passam de algumas horas, na verdade ele não considera ter uma família com a vida que leva. Gosto do Dean como personagem, por toda história por trás dele, coisa que ficou um tanto jogada na personalidade do Denyel neste primeiro livro.

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