{Resenha} Os Olhos do Dragão



Título: Os Olhos do Dragão
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Tradução: João Guilherme Linke
ISBN: 9788581050478
Número de Páginas: 303
Ano: 2013
Classificação: 

Em Delain, um reino muito distante, viviam o rei Roland, seus dois filhos Peter e Thomas e sua mulher, a Rainha Sasha. Roland não era o que se esperava de um rei no quesito “grandes feitos”, mas com a ajuda de Sasha conseguira se sair bem. Mas esta história não é sobre Roland nem sobre Sasha: a Rainha morre de forma súbita (e suspeita!) e enquanto o rei perde aquela que lhe dava conselhos decisivos, o povo sua protetora e os meninos a mãe tão adorada, Flagg, o feiticeiro do reino, celebra a morte de uma inimiga e se vê disposto a seguir com seu plano de cobiça ao poder.

Reza a lenda que Stephen King não prepara um “roteiro” para seus livros, ele vai desenvolvendo a história à medida que ela acontece*. Esse foi o primeiro livro dele que li e percebi a verdade desta afirmação: “Os olhos do Dragão” se constrói através de fatos e lembranças, de olhares de diferentes personagens oscilando num universo medieval. Mas é a narrativa de King que te prende à história, cujo ápice de ações só acontece do meio para o fim: têm-se a sensação de que já se passaram páginas e páginas e nada aconteceu, e o leitor mal percebe que as informações adquiridas até então e aparentemente de pouca importância fazem toda a diferença na composição dos personagens e em seu clímax.

Peter é o herói da história: filho mais velho de Roland e Sasha e consequentemente herdeiro do trono, é amado e respeitado por todos no reino. Apesar de ter perdido a mãe aos cinco anos, manteve na memória toda a educação que ela lhe dedicou e em homenagem a ela tornou-se um rapaz justo, ao contrário de seu irmão Thomas, um garoto amargurado e assustado, que carrega nos ombros a culpa pela morte da mãe. E é seu jeito de ver-se como inferior – e infelizmente, um azar em seus feitos que parece lhe acompanhar desde pequeno – que atrai para si o olhar do malvado Flagg, que pretende fazer do rapaz sua marionete de estimação. É preciso dizer que Thomas não é um garoto mau, ainda que algumas de suas atitudes digam o contrário; é um garoto amargurado, que se sente invisível à sombra do irmão. A presença de Sasha na história pesa na conduta de seus filhos mais que a do Rei; em um pela culpa, no outro pela adoração. E é a fraqueza no caráter de Thomas que permite o domínio de Flagg em sua vida, aproximando-se primeiro como amigo, depois como um carrasco. A esta altura Peter está metido em uma das maiores enrascadas de sua vida e não pode ajudar o irmão, pois precisará testar sua força e habilidades para salvar a si mesmo.

“Os olhos do Dragão” é uma história típica do “jeito King” de contar histórias. O autor o faz exatamente como se fosse uma conversa, um bate papo entre autor e leitor e isso é o que a torna interessante. Na primeira parte ele não mantém a linha do tempo totalmente definida: a apresentação dos personagens faz com que a trama oscile entre passado e presente de maneira sutil para nos ajudar a compreender a personalidade dos personagens. As interferências do autor como "o contador" da história e não simplesmente o narrador trazem outro ritmo para a trama, através de pausas casuais mas propositais para nos fazer refletir sobre as atitudes dos personagens: ele não diz “fulano é bom” ou “fulano é mal” (exceto no caso de Flagg, um feiticeiro que se revela tão ardiloso quanto paciente para cometer seus crimes), pelo contrário; como um pai amoroso que está ensinando seus filhos a discernirem entre o bem e o mal, King deixa a nosso critério o julgamento pelas atitudes dos personagens – e, confesso, em alguns casos eu morria de pena deles!

Aventuras medievais sempre chamam a minha atenção. Todas as questões de tramas das cortes, traições, desejo de poder, reis, rainhas, batalhas... Tudo isto povoa a imaginação de fãs. Mas esta história é basicamente sobre astúcia e paciência. Não há uma guerra envolvida, mas existe bastante conflito. Não há traições, somente maus entendidos. Há uma enorme vontade de se fazer o certo mas às vezes o certo parece tão errado! Se passarmos a peneira na história em termos de ação, o reino de Delain parece um reino sem graça onde não acontece nada de interessante, mas é justamente nas cenas mais desinteressantes que King se mostra um hábil escritor, pois é através delas que compreendemos a força da trama e como pensam seus personagem. E a sua maneira de narrá-los trás a cada movimentação aquele momento de tensão que nos deixa ansiosos sobre o que acontecerá depois.

No fim o livro fala sobre amizade e fidelidade, não uma fidelidade cega e sem razão, mas aquela que através do coração leva por caminhos mais justos, ainda que errantes.

*Nota: alguns autores preparam uma sinopse de suas histórias, escrevendo por capítulos, outros começam por uma parte principal e depois vão encaixando outras sequencias – foi assim que Stephenie Meyer fez Crepúsculo, escrevendo primeiramente toda a parte que o vampiro se revela para a amada e somente depois desenvolveu a história ;).

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