
Título: Coração
Autor(a): Natsume Soseki
Editora: Globo
ISBN: 9788525033512
Número de Páginas: 279
Ano: 1914
O livro é narrado em 1ª pessoa por um estudante universitário (de área não determinada) que observa, em um dia de veraneio, na praia, um homem que lhe chama a atenção. O jovem sente-se então atraído pelo jeito enigmático do outro, e passa a chamá-lo simplesmente de "professor", embora ele não tenha nenhuma função catedrática. Com o passar do tempo, ambos cultivam uma amizade simpática - porém um tanto desconcertante, em virtude da grande diferença de idade -, até que, em determinado momento, para apreender certos ensinamentos do professor, o jovem pede que ele lhe conte toda a história da sua vida. No entanto, sempre adiando o pedido, o professor deixa que seu passado seja envolto em grande mistério.
Natsume Soseki é um dos escritores mais importantes da literatura
japonesa e Coração (Kokoro, no original) foi uma das últimas obras de sua vida,
ao mesmo tempo que uma das mais importantes. Escrita dois anos depois da morte
do imperador Meiji e dois anos antes de sua própria morte, Soseki foca na
mudança dos tempos e dos hábitos e como a vida na sociedade japonesa pode ser
extremamente sufocante por conta de seus padrões e valores.
A história é dividida em três partes, cada uma contada
em pequenos capítulos. A primeira parte é chamada “O Professor e Eu”, a segunda
“Meus Pais e Eu” e a terceira “O professor e o Testamento”, sendo as duas
primeiras contadas pelo protagonista (que é anônimo na história, sendo visto
apenas como “eu”) e a última contada por professor.
A linguagem surpreendentemente simples da leitura faz
com que sequer percebamos que o livro foi escrito início do século XX. Não sei
se isso se dá a tradução incrivelmente bem feita de Junko Ota ou se
originalmente também é assim, mas o ponto é que isso torna a leitura simples e
agradável, fazendo com que, mais do que entender o que se passa na obra, nos familiarizemos
com os personagens. “O anonimato em nada prejudica a narrativa, ao contrário,
revela-se como um recurso capaz, ao mesmo tempo, de propiciar a imersão do
leitor na trama e de, paradoxalmente, produzir o estranhamento e a distância, à
medida que nos tornamos mais ‘íntimos’ das situações e das personagens.”
A história contada nos dois primeiros capítulos é uma
história para se refletir sobre os costumes da época e sobre os valores.
Professor tenta abrir os olhos do “eu” para como as pessoas do mundo real podem
ser traiçoeiras, e como ele não deve confiar em ninguém, assim como Professor
não confia nem em si próprio.
A última parte do livro “O Professor e o Testamento”,
que aliás, é a minha parte favorita, conta a história do passado do professor e nele nos vemos envoltos em um triângulo amoroso entre ele, seu amigo K e uma
mulher que ele chama apenas de “jovem”.
K nasceu em uma família de monges da seita Shinshû e bem
novo foi aos cuidados de uma família de médicos, mas sempre teve interesse em
resquisas sobre religião. Sai de sua cidade natal e vai pra Tóquio estudar algo
relacionado a isso, mas diz para sua família adotiva que vai estudar medicina
e, quando é descoberto, é deserdado por sua família.
Professor então o acolhe na casa onde está hospedado,
onde vive uma senhora e sua filha, mas com o tempo sua relação passa a ser de
uma rivalidade mascarada. K se vê deixando seus princípios de lado por um amor
que nunca havia sentido e, por isso, entra aos poucos em desespero. A confusão
de valores dessa personagem acaba sendo incrivelmente surpreendente porque,
mesmo que o Professor esteja contando a história, ainda conseguimos nos colocar
na pele de K e sentir a angústia que ele sentiu, tornando a leitura
extremamente excitante.
Kokoro foi adaptado em filme duas vezes, uma em 1955
pelo diretor Kon Ichikawa e outra em 1973 pelo diretor Kaneto Shindo. Também
foi uma das seis histórias homenageadas no anime Aoi Bungaku em 2009 pelo
estúdio MadHouse, porém, por ter sido adaptada em apenas dois episódios de 20
minutos, foi contada apenas “O Professor e o Testamento” mostrando no primeiro
episódio a visão do Professor e no segundo a mesma história na visão de K.
Coração é uma história que te fará refletir sobre seu eu
de hoje e como será seu eu amanhã, além de mostrar que todos nós temos
características do “eu”, de Professor e de K cravadas em nossos corações.
“Agora, nesse momento, estou para rasgar o meu próprio
coração, para banhar com meu sangue seu rosto. Eu ficaria satisfeito se, no
momento em que meus batimentos cessarem, você estiver gerando uma nova vida em
seu coração.”
Avaliação: 5.0 de 5.0
não concordo, nem discordo. muito pelo contrario.
ResponderExcluirLOGICAMENTE
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