{Coluna} Turma da Mônica Jovem: Especial 10 anos - Supersaga e os novos roteiristas



Chegamos ao nosso derradeiro post sobre os 10 anos da Turma da Mônica Jovem! E dando continuidade às minhas impressões sobre os trabalhos dos roteiristas, vamos começar pelo Emerson Abreu. Bem,  


Emerson e a Supersaga do Fim do Mundo

Falar das histórias criadas por Emerson Abreu é dar um “pause” no que foi desenvolvido para a TMJ e desviar para um novo caminho – tão bom quanto! A sua participação no roteiro começou com uma história na edição 5 - 1ª série, curiosamente a única edição que reúne historinhas independentes, que não possuem ligação uma com as outras, tal qual é feito na maioria das revistinhas clássicas; as edições 10, 20, 39 e 63 da 1ª série também são compostas por pequenas histórias, mas com algum tipo de ligação entre elas. Essa edição também traz pela primeira vez a Magali de cabelos soltos, passando prancha no cabelo enquanto conversa com as meninas, numa atitude tipicamente adolescente; mais à frente, nas tramas do Emerson, esse cabelo solto da Magá assume outra conotação, pois expõe uma nova característica da personagem. 


Mas o que o alçou como queridinho dos fãs da TMJ foi sem dúvida o arco de histórias que foi uma reviravolta dentro da TMJ: "A Supersaga do Fim do Mundo". Esta série foi iniciada na Ed. 51 – Sombras do Passado numa historinha dividida em duas edições que trouxe algumas velhas inimigas de infância da Mônica (exclusivamente para infernizá-la!). Na Ed.63 – Dia das bruxas, o roteirista repete a experiência das historietas da 5ª edição, mas introduzindo uma narrativa para fazer a ligação entre elas; perto do fim, descobrimos que toda trama é uma continuação das edições 51 e 52,( e das edições seguintes, já que está repleta de pistas para a saga). Mas a trama mais famosa deste arco e que arrebanhou uma nova legião de fãs é “Umbra” (Ed. 74 a 76), que traz uma combinação de aventura, suspense e terror nunca imaginados que seriam vividos pela turma, e talvez por isso foi tão surpreendente. A história mostra uma baita encrenca sobrenatural em que eles se metem ao investigar as raízes de uma festa tradicional em uma cidade vizinha. O mais afetado é o Cebola, que na época encontrava-se no ápice de suas ambições e determinado a provar que era o melhor cara para estar com a Mônica – e como todo plano infalível dele, este é mais um que dá MUITO errado! Os elementos de terror e suspense não são exclusividade deste autor (vide "Contos de arrepiar" – Ed. 39, da Petra), porém foi quem mais trabalhou o gênero em suas tramas na TMJ. Em contrapartida, os recursos de alívio cômico utilizados para não deixar suas histórias “pesadas” demais fez com que elas tenham as piadas mais exageradas, incluindo gírias e muitas caras e bocas da Denise e Cia (ponto para a equipe de arte também!).

Por falar em Denise, já disse que esse personagem cresceu e apareceu na TMJ, desbancando muitos outros tão “clássicos” quanto: tudo isso se deu graças à esse arco. Essa foi uma das desvantagens que considerei desta saga e que já citei antes: a pouca participação da Magali e do Cascão em algumas histórias – a Magá ainda aparece um pouco mais, pois descobrimos que ela é uma bruxa natural com poderes ilimitados e isso é tanto de grande utilidade para a turma em horas de aflição (as cenas que ela se revela poderosa são muito legais!), quanto problemático, já que ela não domina o próprio poder, como é revelado em edições seguintes. O Emerson trouxe destaque para um grupo de personagens secundários que eram explorados por ele nas tramas da turma clássica, praticamente criando uma turma à parte. Outra desvantagem percebida é que em determinado momento as histórias pareciam acontecer fora do contexto ao que estava se passando na turma, gerando aquela sensação de erro de continuidade, o tal “pause” que falei acima. Somente em “A torre inversa” (Ed. 90 à 92) que as coisas voltaram a se alinhar, tanto no equilíbrio da participação dos personagens clássicos quanto na continuidade das histórias até então, pois ao longo da trama o autor amarrou todos os acontecimentos com fatos ocorridos em histórias fora da supersaga, e com isso os acontecimentos voltaram a ter uma linha de tempo coerente.

Problemas de continuidade e novos roteiristas   

Erros de continuidade não foram exclusividade das histórias do Emerson: mais precisamente entre as edições 69 e 90, os acontecimentos entre uma edição e outra pareciam não dialogar muito, exclusivamente na relação Cebola&Mônica, uma vez que o casal promissor não era mais “o” casal e deve ter embaralhado um pouco as coisas na elaboração dos materiais. Esses ajustes de continuidade deram sinais de melhora após o reboot de 2017, já que, mesmo com a nova fase da coleção, algumas histórias não ignoram eventos do passado, como na desenvolvida pelo Wagner Bonilla, “Portal das Trevas” (Ed. 14 e 15 – 2ª série), que traz o Cascão como protagonista, questionando sua relação com o Cebola (já que foi claramente deixado para trás enquanto esse se preocupava ora em dominar o mundo, ora em conquistar a Mônica!) enquanto tenta salvar os amigos de uma estranha doença que os deixa em coma. Bonilla havia publicado anteriormente em Chico Bento Moço, criando um interessante arco de histórias (essa história, inclusive, é parte do arco iniciado na CBM), e não fez diferente na TMJ, utilizando-se da narrativa para criar uma ótima trama, cheia de ação, suspense, aventura e uma profundidade emocional que estava deixando de ser explorada nas edições; esta história trouxe o que algumas histórias clássicas da turminha fazem, que é transformar o simples (a amizade) em algo mais elaborado, sem subestimar a inteligência do leitor. Outro elogio que cabe aqui e que citei no post anterior é o aproveitamento de um personagem clássico secundário pouco explorado até então, o Jeremias, para servir de “escada” para o Cascão. 

Pode-se dizer que os novos integrantes do time de roteiristas - além do Bonilla, temos o Edson Itaborahy (que já escrevia para a turma clássica e também para o Chico Bento Moço!) e Daniela Nascimento - também estão atentos à algumas questões já levantadas pelos fãs nas redes sociais; no entanto, numa avaliação geral das histórias publicadas neste reboot, são poucas as que de fato me empolgaram, independente de gênero, e creio que parte disso seja em função dos ajustes a novas fórmulas aplicadas a elas, como, por exemplo, a participação de  personalidades influentes nas redes sociais e nos negócios: ao tentar passar alguma mensagem para os leitores, ou simplesmente inserir a personalidade na história, esta acaba tendo seu conteúdo comprometido, tornando-se uma história “passável”. Outros fatores comprometedores ocorrem quando a história é mais didática do que divertida, ou quando tende a enrolar para chegar ao objetivo; neste caso, acredito que uma edição repleta de histórias curtas passaria a mensagem de maneira ágil e divertida, mantendo a qualidade da ideia elaborada em seu argumento. 


* * * 

Dizer que um projeto não tem mais o que evoluir é considerar que ele está mais próximo do fim, o que não é o caso da TMJ. Com inúmeros personagens em seu acervo, temas novos surgindo a cada dia, a TMJ tem tudo para seguir o caminho de sucesso que alcançou meteoricamente em seus primeiros anos. E assim como a turma clássica, tendem a imortalidade, pois sempre haverá jovens, adolescentes e adultos interessados em suas páginas!


Espero que vocês tenham curtido junto comigo. Escrever este material foi como uma viagem no tempo, num daqueles especiais da turma clássica que eles relembram historinhas já vividas! Precisei reler algumas histórias - e algumas reli por puro prazer mesmo! - e para minha surpresa, sempre havia um detalhe novo, ou algo que o olhar mais descansado alcança melhor que o olhar ansioso-devorador-da-história! Espero também que tenham entendido que aqui não há nenhum especialista: apenas um fã que ama de paixão este projeto e sentiu uma vontade enorme de falar sobre ele!!

Soprando as velinhas em 3...2...1!

    

0 comentários :

Postar um comentário