{Coluna} Uma Lente no Autor: J. K. Rowling


Esses dias me perguntaram sobre o que eu achei do livro “O Chamado do Cuco” e respondi francamente que não foi um dos meus favoritos; sua continuação, entretanto, “O Bicho da Seda”, chamou muito mais a minha atenção e deixou-me muito mais instigada e satisfeita com a leitura, além de ansiosa pelas novas aventuras do detetive Cormoran Strike e sua fiel secretária. A diferença entre um e outro não foi a trama nem o modo como a história foi contada mas sim, algo que precisa pegar o leitor de cara: a paixão pelo personagem. Como no segundo livro eu já conhecia os personagens principais da trama, foram suas subtramas que mantiveram meu interesse na história – que é muito boa, aliás!

Robert Galbraith ou, minha querida J.K. Rowling consegue, assim como outra de minhas escritoras favoritas, Marion Zimmer Bradley, fazer do “antes e depois” da vida dos personagens algo fascinante: ela nos instiga a pensar como ele e a analisar o mundo pelo seu ponto de vista. A trama é importante, claro, mas em seus livros, a maneira como uma simples chamada telefônica desestabiliza um casal, ou uma escapada de um acidente de trânsito revela mais da personagem do que um simples diálogo mostra o quão hábil J.K é na composição de seus personagens. Seria esta a sua marca?

Vejamos, na saga "Harry Potter", além do bruxinho principal temos todo um arco de personagens que o acompanham, amigos e inimigos. Ainda que nos filmes isto precisasse ser adaptado (senão haja elenco!), dificilmente esquecemos alguém, simplesmente porque volta e meia ela resgatava alguém que teve uma linha citada nos livros iniciais. Ela deu um passado para todos os seus vilões, criou laços para todos os personagens e nos fez amar cada um deles, entendeendo porque agiam daquela forma.

Mas em H.P a aventura era o mote principal: quando não há aventura, o que acontece?

Chegamos então a "Morte Súbita", seu primeiro romance fora do universo bruxo, e que para mim é maravilhoso em sua composição. Numa trama com muitos personagens, neste livro você não consegue determinar quem é o principal da história, logo, a única solução é acompanhar o desenvolvimento de cada um deles. A autora faz isto com maestria: cada personagem tem seu momento certo de apogeu, queda e redenção. Quem gosta de aventura se pergunta a todo tempo quando a história vai começar, mas quem aprecia uma boa novela, verá ali uma excelente trama para se acompanhar justamente pelo fato dos personagens estarem tão próximos à realidade do nosso dia a dia: você os encontra tão bem embasados que se tem a impressão de que irá dar de cara com eles na esquina! É a mesma sensação de conflitos familiares e cotidianos que tínhamos em H.P. quando Harry tinha aquela inveja velada do Rony por este ter uma família, e Rony às vezes se ressentia do amigo famoso – quem nunca? J.K dá vida aos seus personagens nos entregando suas características em doses homeopáticas e quando nos damos conta, já pensamos e agimos como eles e os reconhecemos um pouquinho de seus traços nas pessoas ao nosso redor.

Por isso que, voltando à chance que dei a Bicho da Seda, entendi que o que me cativou nessa trama foi esta qualidade que a J.K tem: transformar coisas simples em uma bela narrativa e amarrá-las a tal ponto de ficarem inerentes aos seus personagens.

E você, o que acha? Deixe seus comentários (mas por favor informe se dará spoilers das histórias ok?!)

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