{Coluna} Turma da Mônica Jovem: Especial 10 anos








“Olha, saiu a Turma da Mônica adolescente!”

“É mentira de internet mãe, o pessoal vive postando isso!”
“Não é não, tá passando aqui na televisão!”
E de fato não era.

Foi num nublado domingo de outubro de 2008, em que eu tentava sem sucesso adiantar meu trabalho final de graduação, que esta notícia me atingiu como um raio: “Como assim eles cresceram e eu não sabia?”. Longe dos meios de comunicação - como qualquer universitário nesta mesma fase (mas nunca, nunca longe das redes sociais!) e sem a assinatura da turminha clássica, eu não acompanhei este lançamento. Naquele momento parei tudo e fui pesquisar na internet: algumas páginas especializadas em hq’s mencionavam o assunto, estava lá, era verdade! No dia seguinte corri até as bancas 
para adquirir meu exemplar; já estavam na terceira revista, eu havia perdido duas edições. Peregrinei pelas bancas atrás das outras duas. Alguns vendedores, principalmente os do “lado de cá da poça”, também pareciam desconhecer a informação: “Eles cresceram?” “Sim, eles cresceram” eu respondia, e mostrava o exemplar que estava na minha bolsa. Consegui as duas edições anteriores, mas a edição zero me aguarda escondida em algum sebo por aí.



Ed.10 - 1ª série
Há dez anos, em agosto de 2008, a Maurício de Sousa Produções – MSP – resolveu arriscar-se em um novo título com turminha mais famosa e amada do país: a Turma da Mônica Jovem. A ideia já rondava a mente do desenhista – e de muitos fãs! - mas a diretoria da empresa tinha ressalvas quanto ao sucesso da mesma. Uma das preocupações era se o novo título não atrapalharia as vendas dos gibis tradicionais, já consolidados no mercado, e também havia a incerteza se agradaria o público-alvo: os adolescentes. Um tanto efêmeros em seus gostos, esse público deixava um lapso na faixa etária de consumidores que outros títulos, como a revista da Tina, não conseguiam cobrir. Assim, numa primeira apresentação, ainda na Editora Globo, o projeto elaborado pela Alice Takeda conseguiu a aprovação da editora – considerado o mais difícil – mas não passou pelo crivo da diretoria da empresa. Porém, quando mudaram para a Panini e surgiu a oportunidade de lançar o novo título, o fator decisivo não foi a diretoria da empresa, e sim uma ocorrência doméstica: ao ver que seu filho mais novo preferia o mangá do Naruto ao invés de sua turminha clássica, Maurício decidiu que estava na hora de lançar a Turma da Mônica Jovem.

A nova HQ da MSP

Com formato de mangá, mas mantendo o sentido de leitura oriental, a Turma da Mônica Jovem trouxe a turminha com idade entre 14 e 15 anos. Os traços de sua personalidade foram preservados em uns - como a força da Mônica e a gulodice da Magali (agora por alimentos diet e light) – e alterados em outros - Cebolinha passou a se chamar “Cebola” e só troca as letras quando muito “nelvoso”, e o Cascão toma banho de vez em quando. É preciso observar que estas mudanças foram essenciais para a trama criada neste novo universo, uma vez que a inteligência do Cebola para elaborar planos foi reforçada, bem como a aptidão do Cascão para esportes radicais, sendo craque nas quadras e nas ruas. Com isto, cada personagem deste quarteto consegue representar certo tipo de adolescente, sendo fácil a assimilação da garotada com eles, e mais ainda quando os outros personagens eram (re)apresentados nesta nova versão e novos personagens chegavam.

Ed. 4 - 1ª série: recorde de
 vendas
O primeiro exemplar deste título superou as expectativas de vendas da própria editora: das 50 mil cópias iniciais, as vendas foram além dos 200 mil exemplares, isso só até o lançamento do segundo número (hoje, com o relançamento das primeiras edições em 2017, com certeza essa marca já foi ultrapassada!). As quatro primeiras edições embarcaram no universo fantástico, numa trama seriada onde a turma vivenciava aventuras em cenários que iam desde o medieval até o futurista, fechando com chave de ouro com o primeiro beijo entre Mônica e Cebola – o que levou a quarta edição a bater o recorde de vendas.  Dali pra frente não faltaram universos paralelos e muitas questões do dia-a-dia como  argumentos para novas aventuras da turma. Algumas edições ainda eram informativas e educativas – afinal, eu nunca saberia que existe uma copa mundial de robôs (Robocup - Ed. 11 e 12), não aprenderia a jogar xadrez (tá, tá, somente alguma noção da coisa rs! - Ed. 40) e que no Japão existem restaurantes (cafés, para ser exata) que tem animais de estimação como atração (Ed. 53)! Por falar em Japão, a turma já esteve por aquelas terras em duas edições (Ed. 47 e 19 - 2ª série); e outro país visitado foi a Austrália, onde o Cebola passou seis meses em intercâmbio (Ed. 6 – 2ª série) e nós aprendemos as curiosidades de lá juntinho com ele! 

Outras tramas utilizaram argumentos que serviram para alertar os jovens de atitudes ruins: ao longo destes 120 meses eles já falaram de bulliyng, fofocas virtuais, comportamentos de ódio e perseguição nas redes sociais, sobre evitar o desrespeito ao próximo, manipulação, pincelaram sobre relacionamentos abusivos... Tudo sem serem caricatos ou didáticos demais, já que o intuito, de fato, é divertir. Inspirações para isto os roteiristas tinham de sobra: games, filmes antigos e atuais, jogos de RPG, memes da atualidade – quer coisa mais divertida do que perceber na trama uma piada atual, de um assunto que conhecemos? Como não esquecer o “vampiro purpurinado” gente? Ou o “me dá o meu chiiiip” que foi inserido numa discussão entre o Titi e a Aninha na edição 31? Outra diversão era descobrir as inserções, quando personalidades (desde celebridades até integrantes do próprio estúdio) se tornavam personagens. A metalinguagem também não foi deixada de lado, já que vez ou outra um personagem nos lembrava de que eles pertenciam à uma HQ e pronto: a piada estava formada!  Impossível também não citar o crossover fofo ocorrido entre os personagens da turma jovem e os do famoso Mestre Osamu Tezuka, uma união muito desejada entre os dois artistas (Maurício e Tezuka) e que, mesmo após o falecimento do ídolo japonês, não foi deixada de lado: as edições 43, 44 - 1ª série e 4 e 21 – 2ª série estão aí para comprovar que sonhos podem levar tempo, mas se realizam (Obs: a edição 21 está chegando às bancas e é comemorativa dos 10 anos). 

Parcerias editoriais e outros produtos

Livros classicos, educativos
e infanto-juvenis sob o selo
da  TMJ
Com o boom da TMJ, a equipe de produção não pensou duas vezes e lançou mais materiais para dar suporte ao novo título. Foi feita uma parceria com a autora consagrada do universo "teen",  Thalita Rebouças ("Fala sério, Mãe!"), que deu continuidade à história de "Ela disse, ele disse" com intervenções da turma. Também foram lançados clássicos da literatura como "Sonho de Uma Noite de Verão" de William Shakespeare, e "A ilha do Tesouro"  de Robert Louis Stevenson ilustrados com personagens da turma jovem, além de outros materiais educativos, voltados para o público adolescente. Até nas edições especiais de 50 anos dos personagens foram inseridas histórias inéditas ao final de cada livro no estilo mangá - inclusive no especial do Bidu! E em 2017, a antologia "Uma Viagem Inesperada" reuniu quatro contos focado nas personagens Mônica, Marina, Magali e Denise, cada um escrito por uma autora diferente (Babi Dewet, Melina Souza, Carol Christo e Pam Gonçalves), formalizando a chegada da Turma Jovem no universo literário infanto-juvenil.   
  
TMJ fora da TMJ: 
historinhas publicadas
exclusivamente nos
especiais de 50 anos
dos personagens. 
Com relação às animações, apesar de muito anunciado infelizmente somente um desenho-piloto foi elaborado pelo estúdio até o momento - talvez porque ao longo deste período  outros projetos tomaram o foco das atenções, como as animações da Mônica Toy (lançado no canal do youtube em 2013) e posteriormente os anúncios do longa "Laços" e outro da própria Turma da Mônica Jovem, estando o primeiro já com as gravações em andamento e o segundo ainda em fase de pré produção (três atores estão confirmados no elenco: Amanda Torre (Ramona), Carol Amaral (Denise) e Lucas Neto (Nik)). Assim, "O Príncipe Perfeito", baseado na historinha da edição 9 da 1ª série, exibido no Cartoon Network em 2015 (também encontra-se no canal da Turma da Mônica no Youtube) é o único exemplar "oficial" produzido (existem produções de fãs baseadas em outras histórias)O estúdio já havia feito algumas peças publicitárias com personagens da turma jovem e no piloto repetiu os traços utilizados nestes materiais, o que decepcionou um pouco, uma vez que a beleza dos traços dos personagens que a revistinha tinha na época não foi reproduzida fielmente no desenho, nem o brilho colorido que as animações da turma clássica possuem; entretanto, na CCXP de 2017, um curto teaser foi divulgado, com uma imagem da Mônica com os contornos mais próximos ao que temos nas capas atuais da revista (única referência colorida para comparar), ainda que o formato de rosto da personagem estivesse diferente - sempre devemos considerar que a intenção é fazer os desenhos no estilo mangá.          

Boa parte do sucesso inicial da TMJ foi a interação entre os leitores e a equipe da MSP. Ao término de cada edição o Maurício “proseava” com os fãs, sendo bem receptivo aos comentários e às mensagens e, mesmo em uma resposta generalizada, tocava o coração dos fãs, que se sentiam fazendo parte desta aventura. Claro que, com o tempo, foi necessário um filtro pois eram fãs de diferentes idades e com opiniões diversas sobre o destino dos personagens, gerando debates acalorados nas redes, não chegando a comprometer o produto e sim, no meu ponto de vista, aperfeiçoando.

Vi os primeiros anos da TMJ como de grandes experimentos, desde apresentação gráfica até as tramas a serem abordadas, e vou compartilhar estas impressões com vocês nos próximos posts; então bora juntar aquela galera que A-M-A D-E P-A-I-X-Ã-O a TMJ para nos acompanhar nesta? 


Até lá!

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