Título: Habibi
Autor: Craig Thompson
Editora: Quadrinhos na Cia
Tradução: Érico Assis
ISBN: 9788535921311
Número de Páginas: 672
Ano: 2012
Habibi é a saga de dois escravos fugitivos, unidos e separados pelo destino, vivendo no limite que separa a tradição da descoberta. Dodola, uma garota perspicaz e independente, foge de seus captores levando consigo um bebê. Eles crescem juntos no deserto, sozinhos em um navio naufragado na areia. Em meio a sentimentos cada vez mais conflitantes, os dois passam o tempo contando histórias. Assim, somos apresentados também à origem do islamismo e de suas tradições, conforme as narrativas se combinam numa trama de aventura, romance, filosofia e tragédia. Para contar a saga de Dodola e Zam, Craig Thompson recorreu ao Corão e às Mil e uma noites. Do primeiro, colheu o próprio estilo do livro, inspirado na caligrafia árabe, e também as narrativas do texto sagrado dos muçulmanos, recriadas com maestria pela pena do autor. Do segundo, tirou um cenário fantasioso, repleto de lendas e histórias, uma versão quase mitológica da nossa ideia de Oriente.
Alguns livros chamam nossa atenção pela capa, outros pela
propaganda espalhafatosa que os anunciantes fazem. A grande maioria me chega
através do boca-a-boca. Mas Habib me conquistou com apenas 14 palavras.
“Da pena divina pingou a primeira gota de tinta.
E aquela gota virou rio”
Habibi é uma história que só parece ser bonita e
encantadora, mas esconde entre seus desenhos e textos o peso das crueldades do
mundo e da necessidade de se tratar pessoas como objetos. Dodola e Zam são dois
personagens que se encontram ainda crianças em um momento de tensão: Dodola
fugia de seus sequestradores. Ambos vão viver em um navio naufragado no deserto
– não, você não leu errado! – onde ela, apesar de ser tão criança quanto ele,
torna-se mais que sua irmã mais velha, torna-se sua mãe.
Dodola traz consigo o peso de ser mulher em uma sociedade
patriarcal, a marca de um mundo injusto: seus pais a vendem em casamento para
um homem mais velho e letrado, homem este que mais tarde é retirado de sua vida
por malfeitores. Ainda menina se vê responsável por Zam e usa do pouco
conhecimento que tem para protegê-lo das maldades do mundo.
Zam cresce envolto às histórias que Dodola lhe conta para
embalar seu sono. Histórias que o encantam e o assustam ao mesmo tempo. E
quando o menino começa a se transformar em homem, o místico e o real se
confundem em sua mente; a inocência pesa em suas ações e o medo do pecado e
suas consequências faz com que tome decisões cruéis para si mesmo,
principalmente quando a amada tutora desaparece de sua vida: seria isto um
castigo de Alá?
Por falar em Alá, este é outro plano na narrativa de Habibi:
Thompson costura a sua história nos versos do Corão, livro sagrado do islã,
trazendo mais poesia ao texto – que, como já foi dito, é cruel e pesado em alguns
momentos. O sagrado envolve o enredo como uma linha a orientar os personagens
daquilo que deve ser feito, mas como ambos
são entregues à própria sorte ainda crianças, serão o instinto e a compreensão
infantil de algumas coisas que os norteiam.
A ausência de linearidade da história causa certo
estranhamento: palavras e imagens que compõem os pensamentos dos protagonistas vão
e vêm à medida que os acontecimentos dão sequência. A compreensão do leitor, no
entanto, no entanto, é alcançada quando se familiariza com a estratégia do
autor (somente não estranhe se pegar voltando as páginas para reler as
passagens!).
O lugar onde a história acontece é atemporal; começamos
achando que é no passado mas a evolução da história e de seu reino nos aponta
que é no tempo presente – ou em um futuro. É uma narrativa que nos faz lembrar a
existência outros lugares no mundo, com culturas diferentes da nossa. Aborda
sutilmente questões do meio ambiente e o quanto a ganância prejudica o mundo, acabando
com a qualidade de vida.
Por fim nos mostra que todas as pessoas no mundo merecem
respeito e amor.
Amor = Haab
Amado = Habibi
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