{Resenha} Diário de Um Ladrão de Oxigênio



Título: Diário de Um Ladrão de Oxigênio
Autor: Anônimo
Editora: Intrínseca
Tradução: Alexandre Martins
ISBN: 9788551000595
Número de Páginas: 160
Ano: 2016
Classificação: 

Diário de um ladrão de oxigênio é a confissão de um homem paranoico, dependente de álcool, drogas e de abusar emocionalmente de suas parceiras que um dia leva o troco — imagine que Holden Caulfield vive embriagado e Lolita é uma assistente de fotografia e que, de alguma forma, eles se encontram em Nova York: Uma Cidade em Delírio.
Com um texto direto, engraçado e extremamente realista, o narrador anônimo que divaga sobre a própria tragédia em busca de expiação fala na verdade de qualquer um de nós, de tudo o que fazemos e a que nos sujeitamos para suprir vazios que nem mesmo entendemos. Quem já que viveu um relacionamento conhece pelo menos um lado desse jogo.
Considerado um F. Scott Fitzgerald para a geração iPad, o autor, presume-se, tem origem britânica e publicou por conta própria seu livro em Amsterdã, onde morava à época. Com os pedidos das livrarias da capital holandesa aumentando cada vez mais, ele começou a levar exemplares a estabelecimentos de outras cidades, como a Shakespeare & Co, em Paris. Após se mudar para Nova York e encorajado pelo sucesso do livro na Europa, bancou uma tiragem de mais 5 mil exemplares. Logo começou a receber grandes pedidos da Amazon. Quem ele é, porém, e sobretudo quem foram suas mulheres, permanecem uma incógnita.

Não é todo dia que nos deparamos com um livro em que o autor é anônimo. Tudo bem um autor famoso usar um pseudônimo quando escreve um livro diferente do que fez sucesso, mas nunca tinha chegado a ler algo publicado por um "anônimo", o que já despertou a minha curiosidade sobre o que se tratava. Como se já não bastasse a curiosidade atiçada pelo autor não se identificar, o enredo pareceu totalmente diferente para mim e bastante incomum, o que gerou várias reflexões e emoções durante a leitura.

O livro é basicamente um relato de um cara que gosta de machucar mulheres, não fisicamente, mas emocionamente. Sim, é isso mesmo. Ele é um publicitário irlandês, alcoólatra, que mora em Londres, pelo menos no início do livro, que se envolve com algumas mulheres simplesmente pelo prazer de magoá-las e humilhá-las posteriormente. Primeiro ele as convida para sair, se passa como  bom partido, leva a história por um tempo, até que ele ache a hora perfeita para machucá-las e traumatizá-las emocionalmente. Em alguns casos, ele pega bastante pesado nesses términos. Fazer isso preenche o vazio que ele sente por um momento.

Durante o livro, temos uma conversa direta com o narrador, que conta suas experiências, tanto com as mulheres, quanto com o trabalho, quanto com a família, mas tendo um foco, o motivo do livro ter sido escrito: uma outra mulher. Ouvimos suas confissões, sem pudor, sobre sua ascenção e queda no amor, pois, ele acaba levando o troco no que ele fazia de melhor: machucar.

O livro é bastante fino, então, se eu chegar a contar algo a mais, pode ser considerado spoiler, tirando um pouco da "graça" para alguns. Por mais que o texto seja considerado engraçado em alguns lugares, ele não é, mas é extremamente realista, o que não é algo muito legal, principalmente porque é possível se identificar com o narrador em alguns momentos.

O livro é supostamente uma autobiografia, mesmo sendo anônimo, o que faz sentido, já que o "Anônimo" é um nome conhecido no ramo da publicidade e propaganda, e que, segundo ele, as coisas descritas nesse livro são reais, o que não pegaria nem um pouco bem, pois ele se mostra bastante machista, misógino e preconceituoso, causando asco em certas partes. O pior de tudo é se identificar em alguns momentos.

A escrita e narrativa são tão simples e ao mesmo tempo tão boas que é impossível largar o livro, independente do que você esteja sentindo pela história no momento, pois o autor consegue despertar a curiosidade e te mantém preso na conversa, até mesmo durante as divagações dele. Se for uma parte horrível e pesada, você lê, se for uma leve e até um tanto comum, você também lê.

A edição publicada pela Intrínseca foge um pouco dos padrões da editora, pois é muito simples. O livro não possui orelhas, é como se fosse uma edição econômica, porém a qualidade das páginas permanece, num bom papel amarelado. A diagramação é simples também, mas é bem agradável. A imagem da capa, por incrível que pareça, não possui uma boa qualidade, mas talvez seja para manter a origem do livro, já que ele foi primeiramente publicado independentemente. O boneco de neve, com a cenoura nas partes íntimas, e deformado, é, provavelmente, uma tiração de sarro do autor com ele mesmo.

Diário de Uma Ladrão de Oxigênio se mostrou uma leitura totalmente diferente pra mim, principalmente tendo a possibilidade de tudo ser real, pois em alguns momentos a história é muito bizarra. É um depoimento de um homem problemático e paranóico, sem freio ou pudor, totalmente sincero, mas que é bem real e acontece por aí, mesmo que não seja no mesmo nível. A leitura pode ser bem pesada e chocar em alguns momentos, mas, de forma alguma, eu me arrependo de ter escutado o que o "Anônimo" tinha a dizer, mesmo sendo a versão dele de toda a história. Foi uma experiência diferente e bem inusitada, tanto que a resenha ficou grande para um livro de apenas 160 páginas. 

2 comentários :

  1. Oi, Lucas!
    Por mais que eu tenha gostado bastante da sua resenha, eu não ando tendo estômago pra histórias com personagens machistas, misóginos e preconceituosos. Duvido muito que entre na minha lista de leituras.
    Beijo

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    Respostas
    1. Oi, Daniela! Realmente, precisa ter estômago pra ler esse livro, pois ele chega a ser bem pesado em algumas partes, mas ainda sim é interessante.

      Abraços

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