{Resenha} A História Sem Fim



Título: A História Sem Fim
Autor: Michael Ende
Editora: Martins Fontes
Tradução: Maria do Carmo Cary
ISBN: 8533613156
Número de Páginas: 392
Ano: 2001
Classificação: 

A História sem Fim é a mágica aventura de um garoto solitário que passa através das páginas de um livro para um reino muito particular, o reino da fantasia. Nesta terra imaginária, numa busca original e cheia de perigos, um menino acompanha a aventura de um outro menino e ambos descobrem a verdadeira medida de sua própria coragem e aprendem com seus erros e acertos. O texto impresso em duas cores, verde e vinho, as belas ilustrações das aberturas dos capítulos completam o clima de encantamento que envolve o leitor.

Hoje vamos estrear nossa resenha de clássicos e nada melhor do que começar com um dos livros de fantasia mais encantadores de todos os tempos: "A história sem fim". Falar sobre este livro é remontar o passado de toda uma geração que nasceu entre aos anos 80 e 90. Pergunte a qualquer um deles e lembrarão imediatamente do cachorrão voador - que na verdade era um dragão! -, e certamente confirmarão que se pode sim, morrer de tristeza. O filme de mesmo nome marcou época (ouvi dizer que um cineasta famoso adquiriu em um leilão o Aurin, medalhão em formato de duas cobras que guia o personagem principal do filme, para guardar em sua coleção - até eu queria um!); suas continuações, no entanto, não fizeram o mesmo sucesso, vindo inclusive a ser repudiada por Michael Ende, autor do livro.

Mas o objetivo aqui não é falar dos filmes e sim deste m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o livro, perfeito para crianças e adultos. Para aqueles que assistiram ao filme (ok, prometo que será a última vez que usarei esta referência!) a primeira parte do livro é toda ele: a história de um herói em busca do salvador de um mundo fantástico chamado Fantasia, que abriga tudo que nossa imaginação é capaz de criar. Esse mundo está sendo atacado por uma praga que a tudo destrói e um jovenzinho é escolhido para encontrar o salvador. A narrativa neste momento prende por duas razões: uma é a caracterização deste universo fantástico, ampliado a cada virada de página com os avanços de Atreiú – nosso personagem principal – em busca do herói que salvará Fantasia. Sem pista alguma, Atreiú vai coletando informações, fazendo amigos e inimigos, enquanto descobre mais sobre o mundo em que vive e a tal praga que o assola. A outra razão é uma questão visual: a história, narrada em dois tempos, um que mostra alguém que a lê (e este alguém não é você!) e no outro as aventuras de Atreiú em si, possui duas cores para diferenciá-los. Isso é importante no primeiro clímax da história, quando descobrimos o salvador deste mundo fantástico.

A segunda parte do livro foi a que mais chamou minha atenção. Como li já adulta, muitas das ações do herói da história se mostravam contraditórias à tudo que um verdadeiro herói de contos infantis deveria fazer. Não, ele não se torna um anti-herói, mas sim, quase um vilão ao se deixar levar por uma série de sentimentos e ações ruins (que a principio poderiam parecer boas). E é aí que a história, como num dos atuais filmes da Pixar, se diferencia para adultos e crianças: os mais velhos reconhecem as falhas “adultas” neste herói em ações que as crianças não perceberiam facilmente. Michel Ende parece buscar, através de metáforas, analogias com a vida real. Reflexões sobre ambição, orgulho, egoísmo são colocadas nas entrelinhas de toda narrativa da segunda parte do livro – como se o mesmo tivesse sido escrito em momentos distintos da vida do autor.

****** SPOILER: Se não quiser saber, pule para o final ******

Uma passagem que me marcou bastante foi um lugar chamado “Sala das Mil Portas”: trata-se de um lugar que pode nos levar aonde quisermos, assim como nos manter presos por séculos. Quando nosso herói se descobre nesta sala (um recinto hexagonal composto por três portas em paredes alternadas) ele perde um bom tempo até compreender que é necessário ser mais preciso na escolha de qual porta abrir para não cair em outra sala hexagonal. Ele passa então a escolher as portas que mais lembram o seu real desejo e finalmente consegue sair de lá. Assim como na nossa vida, as escolhas corretas o levaram aonde queria chegar!

******* Fim do Spoiler ******

Outro detalhe interessante neste livro são as inúmeras possibilidades de histórias a serem criadas: Michel Ende não ignora ações e nem personagens, e assim muitos têm seus cinco minutinhos de fama, sendo descartados em seguida com um “mas esta é um outra história, e terá de ser contada em outra ocasião”. Para uma geração de criadores de fanfics, essa deixa do autor é um prato cheio para a expansão das fronteiras de Fantasia.

Lançado em 1979 e ainda atual, A história sem fim é o típico livro que atravessará gerações!

* Publicado originalmente em omundodeevora.blogspot.com (editado)

0 comentários :

Postar um comentário