{Crítica} Dos Livros Para os Folhetins: Pollyanna















 Já ouviu falar em “síndrome de Pollyanna”? O termo é utilizado para pessoas que veem algo positivo em tudo que lhe acontece, inclusive para eventos considerados ruins. Vale frisar que em alguns casos não se trata de uma característica positiva por ser considerado uma fuga da realidade, uma maneira de abafar ou postergar um sofrimento. Claro que não era bem assim que Eleanor H. Porter pensava - na verdade, ela sequer cogitava que seria responsável por uma nova terminologia: autora de Pollyanna, tudo que a americana e presbiteriana nascida em 1868 queria era que as pessoas buscassem ser mais felizes.


Escrito em 1913, Pollyanna tornou–se um clássico da literatura infanto-juvenil desde então. A história da menininha que mesmo vivendo uma tragédia pessoal (perdera os pais) e indo morar com uma tia rigorosa, vivia alegre e sorridente encanta todos os leitores - bem, mais às crianças, pois alguns adultos a consideram ingênua. O sucesso na época de lançamento foi tão grande que a autora escreveu uma continuação dois anos depois: em Pollyanna Moça encontramos a heroína mais madura, um pouco mais realista em algumas situações, porém sem perder a fé de que as coisas, por piores que sejam, sempre têm seu lado positivo.

Aqui no Brasil as primeiras traduções ficaram a cargo de Monteiro Lobato que, como era de seu de costume, inseriu seus pitacos na história alternando alguns diálogos e simplificando frases que, a seu modo, não fariam sentido ou não eram desejáveis para passar para o leitor (é preciso lembrar que naquela época, idos de 1934, alguns comportamentos não eram visto com bons olhos pela sociedade brasileira - e isto inclui uma garotinha passear sozinha falando com estranhos por aí!). Inúmeras adaptações depois, (incluindo uma brasileira realizada em 1956 pela TV Tupi), Pollyanna retorna para o nosso imaginário na adaptação feita por Iris Abravanel para o SBT, As aventuras de Poliana, prometendo ser mais um sucesso da emissora entre o publico infantil.

Se se consagrará como um sucesso ou não, o principal para qualquer amante de livros é ver o quanto da sua história favorita é respeitada fora do papel. Para quem gosta de escrever, observar adaptações de livros para roteiros de cinema e TV é um belo exercício, pois, dependendo do tempo de exibição da obra, subtrair ou acrescentar temas aguça a imaginação do roteirista responsável pela trama. No caso da Poliana do SBT, a autora tomou a liberdade de ampliar o universo da história original mas respeitou a essência dos personagens (o que geralmente gera queixas entre leitores); se no livro a trama se passava em uma cidade pequena, aqui, a “Poliana brasileira” vai morar em São Paulo e em sua vida entram mais personagens como amigos de escola, a própria escola, primas e um tio que não constavam no livro. O cerne da história está lá: a tia ríspida, o melhor amigo – chamado João -, o enigma do passado e o misterioso Sr. Pendleton – até aqui, um forçado Dalton Vigh. E claro, uma Poliana alegre, sempre positiva e falastrona (gente: como a bichinha fala!!).

Fãs da obra observarão com interesse como questões cruciais da história foram atualizadas para esta nova estrutura. Por exemplo: a tia de Poliana ser uma workaholic que trabalha em casa ajuda a justificar seu isolamento social; e nosso Jimmy/João, cujo passado só é revelado no segundo livro, ganhou uma espécie de prólogo para esclarecer o motivo dele viver nas ruas. Ainda sobre as modificações, uma das coisas que não curti foi o nome da tia de Poliana: no original, o nome “Pollyanna” foi uma homenagem que a mãe desta fizera às duas irmãs, Polly e Anna. Na trama do SBT, a tia Polly transformou-se em tia Luíza; vejam bem, não é ruim, mas parece que tira um pouco do amor que a mãe de Pollyanna devotava pelas irmãs ao homenageá-las mesmo afastada da família. Os pais de Poliana também deixaram de ser missionários e se tornaram artistas mambembes; isto favorece o perfil falastrão e artístico da personagem, sendo também ponte para o núcleo escolar, que é voltado para o aperfeiçoamento das capacidades artísticas de seus alunos (ainda assim me pergunto se outra emissora não manteria o original!). Eu só não faço a mínima ideia de como a autora da novelinha irá adaptar a cena que acho mais encantadora e otimista, onde Poliana muda por completo o sermão de um pastor que encontra em um de seus passeios, ao lhe contar sobre os 800 textos felizes que o pai dela encontrara na bíblia:

“­- Então seu pai gostava desses textos alegres – murmurou ele.- Sim – reafirmou Pollyanna enfaticamente. Ele dizia que logo se sentia melhor desde o dia que começou a procurá-los. Dizia que se Deus se deu ao incômodo de nos dizer oitocentas vezes para ficarmos contentes e alegres era porque desejava que fôssemos alegres (...)”

Bem, a história tem previsão de durar dois anos e atualmente, com pouco mais de 30 capítulos no ar e personagens consolidados, já se afasta da trama do livro para encorpar a sua própria trama. Mas é possível que, pelo tempo, haja interesse em inserir estes trechos e outras questões de Pollyanna Moça também - quem sabe?

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