{Coluna} Microfone aberto! Poesia na Cidade.



Eu lembro a primeira vez em que entrei em um sarau. Já havia passado a hora do rush, eu estava cansada de um dia árduo, então fui até um centro comercial descansar. E em um dos restaurantes acontecia um sarau ao ar livre. No momento em que me sentei, o dirigente deu as boas vindas ao público e gritou: “Microfone aberto!”

Eu nunca pensei que duas palavras pudessem fazer meu coração saltar de excitação! Após a liberação do microfone seguiu-se um desfile de artistas, amantes da literatura e da poesia, apresentando trabalhos autorais e de personalidades consagradas. E eu, sentada ao fundo, me embriagando com aquelas palavras.

Encontros de poesia, como vim saber depois, eram mais frequentes do que eu pensava: perdi a conta de quantos já visitei entre o Rio e Niterói após este primeiro. Muitos acontecem há anos, outros embarcaram no sucesso que têm sido os saraus e se motivaram a criar os seus. Há saraus para causas beneficentes, e até aqueles que o utilizam como atração para inauguração de novos espaços. O fato é que com isso muitos “anônimos” têm se encorajado a tirar seus materiais da gaveta e expô-los: quer melhor crítico do que o próprio público?


Versos de amor, cômicos, de revolta... A prosa e a poesia embalam os saraus, com muita música – afinal, o que é a música senão poesia cantada? – e algumas performances também. Quando necessário, a poesia também se faz política, onde muitos buscam no microfone um lugar para expor, através dela, seus desejos e desesperos relacionados ao futuro da nação.

A poesia também se tornou uma arma, sendo que ao invés de matar traz vida e voz para aqueles a quem a sociedade costuma rejeitar. Nos trens e nos metrôs muitos jovens de famílias humildes oferecem seus versos por alguns trocados que, se não são suficientes para comprar a comida da família, servem para apresentar sua arte no próximo transporte.



Inspirados pela cultura do hip hop, esses jovens se reúnem em batalhas de versos nas suas comunidades. O tema principal são suas angústias e os contrassensos que lhe são impostos: racismo, machismo, políticas de exclusão. Parecem gente grande, “braba”, porém o sorriso tímido depois de uma apresentação revela que são apenas meninos e meninas com muitos sonhos.

E assim a poesia tem se multiplicado em diversos lugares, em diversas classes. Deixou de ser aquela “coisa erudita” para - e porque não? – tornar-se mais e mais popular, alimentando os saraus por aí. E se estes – os saraus - vêm da necessidade de fomentar a leitura eu não sei, só sei que tais iniciativas estão revelando muita gente que não precisa aparecer na televisão para ganhar centenas de fãs pelo seu talento. O sucesso é tanto que até eventos de temática distinta promovem um “momento à poesia”. E nem precisa muito para realizar um: basta juntar os amigos e começar. Seja uma tarde de chá ou uma resenha, motivos para uma sessão de leituras não faltam.

Então ‘bora’ fazer o seu?

0 comentários :

Postar um comentário