{Resenha} Ana e a tal Felicidade



Título: Ana e a tal Felicidade
Autor: Cris Pimentel
Editora: Navilouca
ISBN: 9788565114189
Número de Páginas : 166
Ano: 2012
Classificação: 


Um corte profundo no universo de uma família classe média, com grandezas e misérias, retratadas com a sensibilidade de uma jovem que pagou o amrgo preço por ter vivido o nosso tempo sem renunciar á própria dignidade  

Carlos Heitor Cony




Tenho estigmatizado em mim que romance escrito por jornalista geralmente é suspense, um mistério policial a ser esclarecido, ou um relato sobre um tema atual envolvendo guerra ou política. Não é o caso de Ana. Este livro nos conduz a um passado próximo e com sua linguagem peculiar nos faz, em diversos momentos, reviver lembranças.

Como em toda boa história, “Ana e a tal felicidade” faz com que diversas vezes nos coloquemos no lugar da personagem, nos perguntando se faríamos as mesmas escolhas. Ela é uma moça tímida, nem bonita nem feia, de família tradicional – aquelas em que o pai exerce o respeito pelo medo e a mãe procura colocar panos quentes nos conflitos! A história começa numa cidadezinha interiorana onde impera “o medo do que os outros vão pensar”, o que é um pouco a base da família de Ana.

Ao longo da vida da personagem tragédias vão acontecendo e isso a perturba de maneira a impactar o seu futuro. Já na escola ela descobre as alegrias da verdadeira amizade e o pesadelo do bullying; em casa, o pai osso duro de roer, que já expulsara uma irmã por ter engravidado, limita a sua liberdade. Mais tarde, a perda de um membro da família e a violência colocam, por fim, o seu mundo de ponta a cabeça. O mínimo de segurança que tinha em si mesma se esvai.

“Algumas mulheres superam os problemas sozinhas. De qualquer forma, na maioria das vezes a pessoa simplesmente oculta o ocorrido para si mesma. Não resolvendo, mas apenas escondendo”

As perdas de Ana embolam sua mente afetando seu corpo e suas escolhas.

Entretanto o que chama a atenção em Ana é a maneira singular da sua narrativa, distante, mas nem por isso pouco emotiva. Dificilmente aquele que se envolver com a história não se identificará com alguma coisa. Sejam os fatos de sua infância, a tragédia que lhe abateu, as escolhas que teve que fazer depois disso, a rotina familiar... Em algum acontecimento da vida dela ou em algum personagem você vai reconhecer a si ou a alguém.

A mãe, por exemplo, é facilmente reconhecível na nossa sociedade - você certamente irá encontrá-la em algum membro de sua família. Aliás, é interessante acompanhar a trajetória desta personagem na história, uma vez que seu jeito, inicialmente passivo e complacente com algumas coisas, evolui para imperativo e dominante, mas não autoritário, quando precisa tomar as rédeas da família – na verdade, quando precisa assumir o papel principal como verdadeira cabeça de seu lar, a “dona do galinheiro”.

E é isto que faz com que a história de “Ana e a tal felicidade” seja tão íntima, tão pessoal. Você reconhece nas personagens que circulam este romance uma mãe, uma irmã, uma prima, uma melhor amiga. Percebe a força feminina da amizade, da sororidade, do companheirismo e também da solidão. E termina querendo pegar todas no colo, ou querendo abraçar-se e dizer para si mesmo: “Caramba, se ela conseguiu eu consigo também!”.  

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