{Crítica} Obsessão



Se alguns filmes nos deixam sem palavras, esse Obsessão me deixou foi sem comentários. Como eu estava comprometida á escrever uma crítica dele quando conseguisse assisti-lo (gripada, ao lado dos meus pais e as duas da manhã), missão dada é missão cumprida! Assisti quase um mês depois que terminei de ler o livro que o inspirou, e que por aqui foi lançado com o título original: Paperboy. E justamente por não tê-lo achado uma obra-prima, ainda que tenha prendido minha atenção o suficiente á ponto de eu querer ver o filme, tentei não manter tanta expectativa.

Jack, um moço de vinte e poucos anos, recém-expulso da faculdade, vai trabalhar como motorista para dois repórteres de um grande jornal, o arrogante Yardley e o ingênuo Ward (este, o irmão mais velho de Jack). Os jornalistas estão na cidade cobrindo a prisão supostamente injusta de um ser bizarro chamado Hillary Van Wetter, acusado da morte do xerife local, Por incrível que pareça, o cara em questão tem uma noiva, Charlotte, e foi ela quem chamou os repórteres e vai se tornar centro de uma quadrilha amorosa quando vira o interesse de Jack.

Eu não curto ficar comparando filme e livro, então nem vou me estender nesse assunto. Digo apenas que aqui ambos se completam, mas por um mau motivo: O que tem em um falta no outro e vice-versa. Se o livro peca pelo desenvolvimento lento e o final chocho súbito, o filme acerta nesses dois fatores, mas não se aprofunda na investigação e nem na personalidade dos personagens, o que faz com que certas cenas percam-se do contexto e ganhem mais destaque do que deveriam, Duas em especial: Uma sequencia sexuamente estranha passada na cadeia e envolvendo os cinco personagens centrais, e uma com Jack e Charlotte na praia e que se eu fosse descrever diria apenas que refizeram a cena da água-vida de Antes Só do que Mal-Casado, mas sem a parte engraçada.

Como a trama se passa no fim dos anos 60, a produção quer ao máximo trazer esse clima saturado. Descobri o filme por acaso, quase um ano antes de ler o livro, por meio de uma chamada num canal pago. Eu não o assisti nessa ocasião (deveria, teria me poupado muita dor de cabeça), porém ele me pareceu muito mais antigo do que é! Foi feito em 2012, mas sua fotografia se assemelha ás fitas dos anos 90. A montagem segue esse estilo, tem cortes rápidos, sobreposições de imagens e trazem a atmosfera de calor e transgressão da época que pretendem.

Só que, sem querer, passaram muito o clima de algo que também marcou o fim da década: A incerteza. O fato da cidade idolatrar um xerife assumidamente racista já exemplifica esse vai-não-vai, além do preconceito enraizado de Jack contra Yardley e o misto de curiosidade e repulsa dos personagens diante de Charlotte, uma mulher que contraria totalmente os padrões femininos de então. Essas contradições são interessantes até chegarem á parte técnica. Depois desanda. A impressão que tive é a de que, por mais que se esforçasse, a trama ficava perdida. As tentativas de se aprofundar no caso (que deveria ser a base da trama) eram rasas, e o "romance" de Jack e Charlotte é forçado, quase cômico. O filme todo é narrado por Anita (a cantora Macy Gray), a empregada da família de Jack e quem o praticamente criou. Essa foi uma sacada da qual gostei, já que sua visão sincera balanceia e dá um pouco de leveza á trama.

Os pontos altos estão, como já disse, no desenvolvimento e construção das cenas porque, mesmo com falhas, a trama consegue te prender. Sobre o elenco (eu estava hesitando em chegar nessa parte), conseguiram reunir a nata do Telecine Touch em alguns momentos, digamos, singulares. O destaque vai para, claro, Nicole Kidman e o rei-das-comédias-românticas John Cusack como o aloucado casal Charlotte-Hillary. Zac Efron, que tem investido nas comédias, faz aqui um personagem bem diferente dos que já interpretara e viria á interpretar, mas não conseguiu passar ao "atormentado" Jack a complexidade necessária para fascinar a platéia. David Oyelowo (do qual sou fã assumida!) entrega uma performance bem segura, trazendo a arrogância e a ambição de Yardley na medida certa e sem cair na armadilha da caricatura, mesmo nos momentos de cinismo. Só achei meio estranha a caracterização do repórter Ward, interpretado pelo também-rei-das-comédias-românticas Matthew McConaughey. Embora a atuação seja muito boa, senti falta da indiferença que o personagem demonstra no livro e que se fosse colocada no filme traria um bom impacto ao desfecho da trama.

Enfim... Esse é um daqueles filmes pelo qual eu sinto na mesma parcela repulsa e fascínio. É louco, absurdo, surreal, traumatizante e insano. Mas precisava falar dele. Quer saber? Recomendo, desde que não espere uma superprodução ou queira ver ao lado dos teus pais.



Título: Obsessão (The Paperboy)
Elenco: Zac Efron, Nicole Kidman, Matthew McConaughey, David Oyelowo, John Cusack
Direção: Lee Daniels
Gênero: Suspense, Drama
Duração: 1h 47min
Classificação: 16 anos
Avaliação: 


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