{Resenha} Árabe do Futuro 2



Título: O Árabe do Futuro 2 (O Árabe do Futuro #2)
Autor: Riad Sattouf
Editora: Intrínseca
Tradução:
ISBN: 9788580578805
Número de Páginas: 160
Ano: 2016
Classificação: 
Série: Livro 1: O Árabe do Futuro

Segundo volume da premiada trilogia O árabe do futuro, que narra a infância nada comum do quadrinista Riad Sattouf no Oriente Médio. No primeiro volume (1978-1984), o pequeno Riad, filho de pai sírio e mãe bretã, passou os primeiros anos de sua vida dividido entre a Líbia, a Bretanha e a Síria. Nesta sequência, ele narra os choques de seu primeiro ano como aluno de uma escola síria, onde enfim aprende a ler e escrever em árabe enquanto enfrenta um ambiente rígido e violento. Ele também conhece mais a fundo a família paterna e, apesar dos cabelos louros e das semanas de férias na França com a mãe, faz todo o possível para se tornar um verdadeiro sírio e encher o pai de orgulho.
A vida no campo, a escola no pequeno vilarejo de Ter Maaleh, as incursões ao mercado negro na cidade grande, os jantares luxuosos com o parente que era general e as caminhadas nas ruínas áridas da antiga cidade de Palmira, conforme retratados no livro, são um impactante mergulho na realidade da então ditadura de Hafez Al-Assad na Síria.
Muitas vezes comparado aos aclamados Maus e Persépolis, O árabe do futuro exibe uma visão reveladora sobre o conflito entre culturas que está definindo o século XXI. Com traço simples e narrativa fluida e divertida, Riad fornece ao mesmo tempo uma análise do embate entre o Ocidente e o mundo árabe e um autorretrato de uma infância tão plural e de cores tão fortes.

E a autobiografia de Riad através dos quadrinhos continua. No primeiro livro, a gente acompanhou a adaptação do garoto e sua família se dividindo entre a Líbia, a Síria e a França, tendo contato com todas essas culturas, um tanto divergentes. Agora temos um "protagonista" um pouco mais adaptado, mas que encarará um novo desafio: seu primeiro ano na escola árabe.

Nesse segundo volume ainda temos a cultura árabe bem evidente nas páginas. Riad, com seus cabelos loiros, diferente do resto dos seus colegas de classe, ainda é chamado de "judeu", motivo para ser ridicularizado na Síria, por conta da situação política de Israel, então se vê obrigado a tentar outras coisas, como "declarar guerra à Israel", uma brincadeira um tanto comum entre os estudantes no horário do intervalo.  

Um dos destaques desse livro é o modo que os professores e diretores tratam os alunos, que pode ser considerado sádico, dando reguadas fortes nas mãos dos alunos por diferentes motivos, mesmo os mais bobos. Além disso, é evidente que o foco da escola não é ensinar e educar, mas sim inserir a devoção muçulmana nas crianças, assim como venerar o governo e seu ditador. Vale ressaltar também que apenas os meninos podiam ir à escola, que também não tinha uma das melhores condições.


Além da questão escolar, em Árabe do Futuro 2, temos uma evidenciação das diferenças entre os mesmos povos, visto que os pais de Riad fazem amizade com militares e suas famílias, que possuem uma considerada fonte de renda, aplicada nas casas e nas viagens. O protagonista acaba tendo em vista a vida dos muito ricos e dos muito pobres. 

Algo que já tinha ganhado uma certa atenção no primeiro volume é o papel da mulher nessa cultura, um assunto que se acentua nesse volume, dando um certo destaque a inferioridade e impureza das mulheres, mensagem que Riad acaba recebendo durante a história. Algumas partes são inacreditáveis, do enredo no geral.


Apesar de tudo, o quadrinho ainda conta com o seu humor de praxe, mesmo que seja um tanto ácido as vezes. Há situações bem infantis, dado que o protagonista é uma criança, com suas preocupações e e problemas. É algo bem divertido, em contraponto, acompanhar a trajetória de Riad. Tudo isso regado a traços simples e cores leves.

O Árabe do Futuro 2 continua sendo um quadrinho muito bom, nos apresentando, de forma fluida, uma criança recebendo muitas informações em meio a ditadura árabe e sua cultura, nos levando a questionar as questão da época, algumas que perduram até hoje inclusive. O segundo volume serve como uma espécie de transição, adicionando um pouco mais do que já visto no primeiro, nos preparando para o fechamento da trilogia, concluindo a juventude de Riad. 
  

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