{Crítica} O Bom Vizinho



Admito, eu não esperava muito desse filme quando comecei á assistir. No máximo, um desses suspenses com jovens entediados espiando a vida dos vizinhos, aos moldes de Paranoia e Alem da Escuridão. Só que essa trama consegue, de um jeito simples e original, inverter e quebrar esse clichê, nos surpreendendo de forma perturbadora e até provocando uma ou outra reflexão que pode durar dias.

Os jovens Ethan e Sean montam uma espécie de kit atividade paranormal na casa de um senhor chamado Harold Grainey, o vizinho rabugento do primeiro. Explicando melhor, eles enchem o lugar de câmeras e outras quinquilharias de efeitos especiais com a intenção de fazer o velho achar que sua casa é assombrada. A desculpa deles é de estar fazendo um experimento social para um trabalho escolar, cujo mote é "como uma pessoa cética pode ser levada, com os estímulos certos, á acreditar em experiencias sobrenaturais". Ok, isso já é um tema meio estranho para um trabalho, mas... O fato é que, conforme avançam, os garotos verão o tão perigoso é perturbar alguém que já carrega seus próprios fantasmas. O Sr. Grainey não se intimida com os "espíritos", tem ataques repentinos de fúria, e parece saber que é observado.

A construção dos personagens é bem feita: Ethan é o popular, influente, e sabe disso. Só que toda essa autoconfiança se revela uma casca para lidar com alguns traumas, fazendo-o transferir sua revolta para o alvo errado. Sean é o cérebro da dupla, sabe de tecnologia  (é dele o kit fantasma) e tenta manter a razão acima de tudo, mas é solitário e termina se apoiando em Ethan, acatando tudo o que ele faz. Viram que não é uma amizade muito saudável, certo? Eu ainda não conhecia os dois atores -Logan Miller (Ethan) e Keir Gilchrist (Sean)-,mas ambos estão ótimos, principalmente na segunda metade, quando a tensão aumenta e ocorre a grande reviravolta.

Ethan tambem instalou câmeras em seu próprio quarto como forma de documentar o projeto, e é por elas que acompanhamos boa parte do filme. Eu sei que, igual a premissa "vizinho xereta e vizinho sombrio", o uso do found footage não é nenhuma novidade no gênero, mas a direção consegue encaixa-lo de forma tão harmônica que ele não só deixa de parecer alternativa barata, como se torna parte importante da estória. Algumas seqüências são filmadas convencionalmente,  entre elas as cenas passadas num julgamento. Não se sabe quem é o réu, vitima ou crime, apenas que está relacionado ao experimento e que ele passou de todos os limites.

Desde que o cinema é cinema, o suspense é um dos gêneros que mais usa de esteriótipos para sustentar suas estórias. Felizmente, a nova safra de diretores e roteiristas vem se dedicando á romper esses (pré)conceitos, nesse caso o dos adolescentes que sempre tem razão mas nunca são escutados. Aqui, alem dos garotos não serem mostrados como santinhos, também mostra as consequências REAIS em deixar de levar os jovens á sério pela falta de maturidade desses. Pus enfase no real porque não tem outra palavra que possa definir melhor esse filme. Mesmo sendo ficcional, eu fiquei esperando surgir o aviso "baseado em fatos reais" nos créditos. O fato de ser um suspense "diferente" (o que pode frustrar um espectador desavisado) não impede de causar uns bons sustos, no que a trilha sonora contribui bastante. A fotografia é muito boa e consegue passar de uma visão á outra sem perder o tom, o que é raro em filmes que juntam câmera tradicional e found footage. O mesmo vale para a montagem, embora as sequencias do tribunal destoem um pouco do restante.

E para encerrar, digo apenas que esse filme conta com uma senhora atuação de James Caan (Harold), o bom vizinho do título. É impossível falar do personagem sem tirar a graça da trama. Porém, mesmo com poucas falas, o ator consegue se sobressair só com sua expressão e nos deixar sem palavras no final.



Título: O Bom Vizinho (The Good Neighbor)
Elenco: James Caan, Logan Miller, Keir Gilchrist, Laura Innes, Edwin Hodge
Direção: Kasra Farahani
Gênero: Suspense, Drama
Duração: 1h 38min
Classificação: 14 anos
Avaliação: 

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